quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Maria Fuzil


(O moço)

Bom dia, Maria

Que eu vim te buscar.

O dia é longo e claro

Conheceremos-nos ao fim, ao luar!


(A moça)

Bom dia, João, que a

noite anterior mal dormi!

Ansiosa estava por vê-lo aqui!

Na porta de casa, engomado,

Esperando-me surgir!


(O moço)

Vamos tomar sorvete, assistir estréia,

Dar beijo só no escuro da platéia!

Comer pipoca num pacote só,

Enlaçar os braços feito nó!


(A moça)

Coisa antiquada, que engraçada!

Para que tanto empenho?

Aos seus desejos, basta, me atenho!

Vamos a sua morada,

Deitar sob a sacada!


O casal seguiu o caminho,

João suando frio. Queria um cafuné,

mas a menina só queria saber do cabaré.


Era santa semi-virgem do Século Vinte Um,

Depilação brasileira e esmalte incomum,

Crina aos ventos da janela do carro,

Lascívia saciada tal qual fumaça de cigarro.


João subiu, mas o vôo foi rasante,

Logo caiu!

Não queria mais uma coadjuvante,

Queria era amar!


Maria só não entendia

Como é que, sendo tão fácil e bonita,

Não conseguia agradar.

O que os homens queriam, afinal,

A complicação inerente àquele ser angelical?


No dia seguinte, o telefone

João não atendeu.

Ele fora atrás de mulher infantil,

Mimada e imbecil,

Que nele só sabia mandar,

A retribuir com o enrolar.


E João chorou da perda do amor,

Quando tal moça, de súbito, o largou.

Estava criada nova Maria fuzil

De outro João deste Brasil.