quarta-feira, 24 de setembro de 2008

(auto)Análise Social


Aula de Sociologia.

O professor, jogado na cadeira e com o queixo apoiado na mão, sussurrava para as paredes pelo microfone.

Os alunos se ocupavam com diversas atividades: comentários sobre a última festa, leitura de textos de outras matérias, desenhos, sonhos com os olhos abertos... Eu mesma não era exceção: escrevia um pedaço de poesia. Em meio à impaciência de não encontrar a palavra perfeita, permiti-me ouvir o que aquela face escondida por detrás dos cabelos oleosos tinha a dizer.

O tema era suicídio, o fato e o livro de Emilè Durkheim. Capitei o catedrático da cadeira de Sociologia no momento em que relatava os suicídios ocorridos quando um cometa passou perto do planeta. Os falecidos daquele dia fatídico acreditavam que seriam levados pelo cometa para outro lugar.

A declaração do professor prendeu minha atenção de uma maneira peculiar: eu deveria ouvi-la.

- É aquela crença de quem, em algum lugar, há uma vida diferente – ou melhor- que esta...

Seu olhar perdeu-se na sala. Suas rugas pareceram-me mais cansadas, seu terno, ainda mais velho. Tive pena daquele ser humano. Soube, naquele instante, que ele já quisera se matar. Diferentemente de muitos cientistas sociais, ele sabia do que estava falando.

 

 

Esse texto tem algumas mentiras, mas muitas verdades. Sendo assim, decidi pela tag "vida".