sexta-feira, 4 de julho de 2008

João Botas-de-cemitério


João botas-de-cemitério é o meu marido. Eu o amo tanto. Amo a maneira como suas sobrancelhas se ajuntam quando ele está perplexo, ou como suas mãos fortes seguram a pá, fazendo seus bíceps saltarem. Sinto carinho por ele quando se lava, esfregando desajeitadamente suas pernas sujas de terra, quase não cabendo no nosso box. Amo também quando corre olhando para baixo, voltando para casa para assistir à partida de futebol. Admiro-o pela sua força de vontade de sair da cama que eu esquento para ir trabalhar logo pela matina. Mas, nessa hora, a verdade é que sinto um alívio. É verdade que eu o amo, mas quando ele chega perto, eu sinto cheiro de morto. Depois passa, mas aí, quando eu o abraço, imagino se ele antes não agarrou um defunto para o colocar no caixão. E pior: quando transamos, eu imagino se ele não se sente atraído pelas mulheres mortas que acaba vendo peladas. Será que ele não as imagina? Acho que ele me ama, sim. Não tem mais ninguém além de mim. Mas às vezes penso que ele me quer como as defuntas: quieta e subordinada.

6 comentários:

Anônimo disse...

Alla hu akhbar!!!

Anônimo disse...

This topic have a tendency to become boring but with your creativeness its great.

Michael disse...

Já falei que amo este seu conto? Você escreve terrivelmente bem, meu amor! o_o'

Te amo, meu amor!

ex-amnésico disse...

Envolvente, reflexivo, sutilmente mórbido; seus contos parecem caixas chinesas, sempre tem algo mais para se descobrir neles!

Bom 'vê-la' de volta!

Um abraço.

Anônimo disse...

Ai, cruzes!
Bem cavado esse texto. :)

Anônimo disse...

Quem é você?

Ah...a propósito: Sacional!