quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Comercial

Na mixórdia de gente perambulando a 25 de março, três figuras se destacavam: um moleque, uns 14 anos, talhando o poste de luz com uma faca “butterfly” como quem não tem nada melhor para fazer; um velho magrelo, falando pela boca de dentes pútridos; e, finalmente, uma menina, 15 anos aparentemente, vestida como mulher adulta, ouvindo indignada.

- Mas, meu senhor! Eu entendo a sua posição, mas é que se trata de uma rua, lugar público! Não pode me tirar daqui, não estou fazendo nada.

- Boneca, - o velho cuspiu na sarjeta – todos nós sabemos o que você está fazendo aqui. E é tão ilegal quanto mandar alguém inocente embora de uma rua pública. Não queira arrumar confusão... Isso aqui é a rua comercial mais importante do centro, e essa é a calçada da MINHA loja.

- Ora, deixa eu ficar, vai? Só o senhor reparou em mim, nem estou atrapalhando!

- Opa, opa. Eu reparei em você. – Pelezinho, o moleque, parou o que estava fazendo para lançar um olhar tanto pervertido quanto perverso.

- Cala a boca, Pelezinho. Isso é entre eu e a moça aqui. – e o velho colocou seu braço sobre o ombro dela.

- Sem querer ofender, Seu Barros, mas ela poderia ser sua neta... Tem quantos anos? O mesmo que eu, aposto. E o senhor tem neto até mais velho que eu!

- Muito engraçado, muito! Você, quando chegar na minha idade, vai entender que a vida só está começando! – virou-se para a menina – A belezura está cobrando quanto? Eu pago!

- Vinte reais, duas horas. Quinze, se o senhor deixar eu fazer o ponto aqui.

- Ótimo. Agora chispa, moleque!

(...)

- Pronto, agora que ele se foi, vamos à farmácia para comprar o santo medicamento.

-... o senhor vai mesmo deixar eu fazer ponto aqui, né?

- É, é... Agora, vamos.



(créditos para a imagem, foto da capa de "Valentina 67-68" de Guido Crepax)

3 comentários:

000000 disse...

Ele poderia estar levando ela para um lugar pouco movimentado para matá-la e abandoná-la numa vala tão pútrida quanto os dentes dele.

Quem sabe?

ex-amnésico disse...

Sem São Paulo (ôôô)
O meu dono é solidão
Diga sim, que eu digo não...


Nessa cidade, tudo é possível!

ex-amnésico disse...

Tem uma indicação pra você nas Notas, passe lá pra ver.